Confesso que a proposta de Under Domain me cativou desde quando dele ouvi falar pela primeira vez. O jogo, aliás, é obra de brasileiros, e encontra-se disponível no Steam por um preço muito mais do que camarada.
Desenvolvido pelo estúdio Playlearn, sediado em São Caetano do Sul – SP, o título foi lançado exclusivamente para PC no último dia 22 de Outubro, e chama a atenção também devido à sua narrativa inusitada e aos elementos de ficção científica que dele fazem parte.
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Under Domain é um jogo de estratégia. Um jogo de estratégia em turnos, para ser mais preciso. Um game, além disso, que não exige um “computador da NASA” para ser executado: seus requisitos mínimos e recomendados são bastante amigáveis.
Trata-se de um jogo no qual encarnamos os “vilões” da história, mas comentarei mais a respeito deste detalhe ao longo deste review. Vale lembrar também que a Playlearn é especializada no desenvolvimento de jogos educativos e serious games, sendo que Under Domain é sua primeira investida, digamos, na área de jogos eletrônicos focados no público mais tradicional.
Sobre Under Domain
Senti, durante a campanha do jogo do estúdio brasileiro, um clima meio XCOM: Enemy Unknown, guardadas as devidas diferenças no tocante ao escopo, à narrativa, às mecânicas e também aos próprios personagens principais, digamos.
Under Domain é um jogo que insere o jogador no comando de uma raça alienígena, os Reptilianos. Tal raça, aliás, deseja se vingar dos seres humanos. Bem, até podemos chegar à conclusão de que vingança não seja a palavra adequada, no caso.
Eles desejam, isto sim, evitar que determinadas tragédias do passado aconteçam novamente (tragédias estas resultantes de investidas humanas, que fique bem claro), valendo também a pena ressaltar que os Reptilianos foram uma vez uma raça de seres pacíficos.
Obs: e para tudo isto, os alienígenas fazem uso de algo bastante explorado na ficção científica – mas é melhor você jogar para ver.
E assim, portanto, os Reptilianos, outrora pacíficos, desejam invadir o planeta Terra, o nosso lar.
Narrativa e mecânicas interessantes
Como já dito acima, no jogo, controlamos uma espécie alienígena que busca meios para invadir o planeta Terra. Temos uma nave-mãe camuflada orbitando nosso mundo, e é à partir dela que, digamos, tudo se origina.
Vale destacar mais uma vez que, aqui, os humanos são vistos como os vilões da história (como você já deve ter percebido), e os Reptilianos como os mocinhos. Afinal de contas, também, estamos controlando tal raça, para o bem ou para o mal.
Invadir o planeta Terra é o objetivo máximo do jogo, e a invasão pode ser iniciada à partir de determinado número de turnos. Entretanto, é necessário nos prepararmos bastante antes de tal investida.
Under Domain acompanha a história dos seres humanos do ano 1900 até 2020. Cada ano é dividido em 10 movimentos, sendo que cada um deles representa um ano na história dos seres humanos.
Há um tutorial bastante básico no jogo, o qual apresenta ao jogador o suficiente para que este dê início a seus planos de invasão. Mas creia em mim: não se trata de um jogo difícil de jogar, daí o curto e básico tutorial.
Muito rapidamente você dominará todos os meandros do jogo de estratégia: o difícil é chegar à vitória, até o ano de 2020 (ou até o ano em que você decidir lançar sua investida final).
Ações e gameplay
Cada ação feita no jogo, mesmo que uma simples atualização em uma nave espacial, ou até mesmo o lançamento de sondas orbitais para monitorar a atividade humana conta como um movimento.
Portanto, todo cuidado aqui é pouco. Afinal de contas, a humanidade vai evoluindo, década após década, fazendo novas descobertas e também construindo novas e poderosas armas e equipamentos, os quais vão aumentando seu nível de periculosidade.
Isto deve ser levado em consideração o tempo todo, e o jogo exibe clara e constantemente um percentual relativo ao poder de guerra Reptiliano e Terrestre. Under Domain conta com legendas e interface em português do Brasil, portanto, não se preocupe com isto.
Além disso, temos aqui um jogo que acompanha, de forma muito bacana, determinados acontecimentos, eventos e fatos importantes da história humana, tais como, por exemplo, a Guerra Fria, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a corrida espacial, etc.
Tudo isto, obviamente, é levado em consideração pela IA do jogo no momento de determinar o nível de ameaça humana frente aos Reptilianos, e de tempos em tempos, somos apresentados a determinados eventos críticos que, caso não resolvidos, podem resultar em acontecimentos funestos (para os Reptilianos) no futuro.
Por exemplo, pode acontecer de determinada descoberta ser feita, a qual pode fazer com que o nível de ameaça dos humanos cresça. Por exemplo, podemos presenciar a invenção do motor a jato. E nestes casos, é possível assassinar o inventor, acompanhar a evolução do projeto, ou até mesmo controlar a mente do tal cientista, ação esta que possui vantagens óbvias.
Também é possível abduzir determinados personagens chave durante a campanha de Under Domain, e vale também a pena lembrar que é necessário obtermos recursos para nossa empreitada, os quais se resumem a energia, oriunda de vulcões, e minérios.
Podemos, com alguma liberdade, de fato, “varrer” a superfície terrestre e escolher os locais para as respectivas extrações de recursos, e isto inclui até mesmo o Brasil, veja só que legal.
O jogo também brinca, de certa forma, com eventos que até hoje provocam grande alvoroço em determinados meios, tais como, por exemplo, os supostos alienígenas conhecidos como Greys, e o misterioso Caso Roswell.
Algumas considerações finais
Under Domain certamente é uma daquelas pequenas joias independentes que podem passar despercebidas pelo radar de muitos jogadores, infelizmente. O título conta até mesmo com um fator replay bem alto.
Acontece que a duração da campanha pode ser curta, dependendo do estilo do jogador. Porém, é possível jogar tudo novamente, aprendendo com os erros passados e, assim, planejar as ações com mais detalhamento, obtendo maior eficácia no “projeto”.
Só achei estranha uma coisa, e devo dizer que esperava que isto acontecesse com muito mais liberdade: uma vez iniciada a invasão Reptiliana (à partir de determinado turno, há um botão para iniciá-la), é impossível parar.
Continente após continente vai sendo invadido, e os resultados, para o bem ou para o mal, vão sendo apresentados em tela. Eu gostaria muito de ser capaz de planejar a invasão com um maior nível de detalhes, invadindo, por exemplo, um continente por vez, pausando, estruturando melhor minhas forças de ataque, escolhendo quais naves utilizar (lembre-se: é preciso construir e evoluir as diversas naves de ataque disponíveis), e assim por diante.
Mas de qualquer forma, o jogo é muito bacana, e trata-se de um ótimo representante brasileiro neste imenso mar de indie games aos quais somos expostos quase que diariamente. Gostei bastante, e isto sem falar que o jogo possui arte e trilha sonora muitíssimo bem feitas. Temos inclusive algumas cutscenes interessantíssimas e bonitas.
Esta “inversão de papéis” apresentada pelo jogo foi algo muito divertido de ver, e mal posso esperar por mais novidades da Playlearn. Aliás, confesso também que não conhecia o estúdio, sendo que Under Domain foi até mesmo escolhido para estar entre os 80 melhores indie games na Tokyo Game Show 2020!
Ficha técnica
Título: Under Domain
Gênero: Estratégia em turnos
Desenvolvedora: Playlearn
Publisher: Playlearn
Data de lançamento: 22 de Outubro de 2020
Plataformas: PC
Versão analisada: PC